Os mercados globais têm apresentado extrema volatilidade no passado recente. O VIX,
índice de volatilidade do SP 500 quase dobrou nas últimas duas semanas, passando de
17,91% em 19/11 para 30,67% na última sexta-feira 03/12. No mesmo período a taxa de
juros de 10 anos nos EUA caíram de 1,54% para 1,35%, uma queda de quase 20bps.
Dois fatores básicos têm sido preponderantes na geração de volatilidade:
• A persistência de níveis elevados de inflação tanto em mercados desenvolvidos
quanto em mercados emergentes.
• A nova variante ômicron, detectada na África do Sul, se disseminando globalmente.
Em base anual o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA elevou-se a 6,2% em outubro
e no Brasil ultrapassou a barreira de 10% nos últimos meses. Tanto o FED quanto o
BACEN, estão bem atrás da curva e vão ter que se mexer para tentar controlar o
processo inflacionário. O FED declarou explicitamente que a natureza da inflação não
parece mais transitória. A nova variante, aparentemente mais transmissível e menos letal,
vai gerar impactos ainda desconhecidos sobre crescimento e atividade.
Entretanto, os impactos destes fatores globais sobre países e economias específicas vai
depender de suas características locais. Entre elas pode-se destacar: emprego e renda,
consumo, confiança e crescimento. Uma análise comparativa Brasil x EUA permite
evidenciar as maiores dificuldades encontradas para o crescimento de nossa economia.
É interessante começar por emprego e renda, tanto o Brasil – PNAD contínua do 3º.
Trimestre – quanto os EUA – Jobs Report de outubro – divulgaram seus relatórios na
última semana. O desemprego caiu nos dois países, no Brasil de 14,2% no segundo
trimestre para 12,6% no terceiro e nos EUA, em base mensal anualizada, de 4,6% em
setembro para 4,2% em outubro. Já o comportamento da renda foi bem diferente, o
rendimento mensal médio habitual caiu 4% de setembro para outubro no Brasil e 11,1%
em base anual. Nos EUA o rendimento em outubro subiu 4,6% em base anual. Aqui os
rendimentos não só vêm caindo há alguns meses, como a qualidade dos empregos cai
com o aumento da informalidade.
Com relação ao consumo, convém relembrar que no período da pandemia, com a
redução de gastos, foi acumulada uma poupança significativa globalmente. A expectativa
era que esta poupança viria suportar uma forte retomada de consumo, tanto no Brasil
quanto nos EUA. Efetivamente o consumo cresceu nos EUA, em base anual, de 3,7% em
setembro para 4,1% em outubro, enquanto vendas no varejo vêm caindo no Brasil nos
últimos meses. O IBGE reportou uma queda, também em base anual, de 4,2% no volume
de vendas em setembro, além de uma maior queda na produção industrial – em base
anual, uma queda de 4% em setembro para 7,8% em outubro.
Com relação a indicadores de confiança, os EUA têm mantido uma certa estabilidade.
Dentre os dois principais indicadores, o do Conference Board mostrou uma pequena
queda, de 111,6 em outubro para 109,5 em novembro, mas o da Universidade de
Michigan mostrou uma pequena elevação de 66,8 para 67,4 no mesmo período. No caso
brasileiro, todos os indicadores de confiança reportados pela FGV em novembro
mostraram quedas expressivas. O índice agregado de Confiança Empresarial caiu
bruscamente, de 100,3 para 97 de outubro para novembro.
Finalmente, os dois países reportaram o PIB do terceiro trimestre nas última duas
semanas. Os EUA reportaram um crescimento do PIB do 3º. Tri em relação ao 2º. Tri de
2,1%, em base anualizada, enquanto o IBGE reportou uma queda não anualizada de
0,1%, o que representaria uma queda de cerca de 1,2% em base anual. Tudo indica que
a queda no último trimestre deverá ser maior, levando o PIB em 2021 a crescer um pouco
menos do que 5%.
O crescimento do PIB em 2022 é que preocupa. O cenário de perda de renda, de redução
de vendas no varejo com queda da produção industrial e redução generalizada da
confiança em todos os setores da economia sugere uma pequena elevação do PIB, em
torno de 0,5%, em uma visão realista. Entretanto, não se pode deixar de reconhecer que
existe uma probabilidade significativa de queda do PIB em 2022.
Ney O. Brito
CEO Ney O. Brito & Associados, Ph.D. Financial Economics
Stanford University, Professor de Finanças UFRJ